Presidente do CORECON-BA prevê incremento de 3,5 por cento em 2014
2014 é um ano que merece atenção especial dos economistas baianos, seja pela realização da copa do mundo, seja pelas expectativas das eleições de outubro, as quais poderão definir novos rumos para a economia em curto espaço de tempo. O futuro é incerto e difícil de prospectar sem a utilização de alguns condicionantes que, se concretizados, podem trazer respostas à inquietude em relação ao desempenho do Produto Interno Bruto do Estado no ano em pauta.
Por isso, o Economista Gustavo Casseb Pessoti, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (CORECON-BA), prefere trabalhar com a análise de cenários. “Desta forma, é possível minimizar os erros de previsões feitas sem que nenhuma pesquisa econômica anterior forneça pistas em relação ao que efetivamente está guardado de bom e de ruim para a economia baiana em 2014”, declarou.
Se as taxas setoriais previstas pelo Economista a partir da análise dos cenários atuais se efetivarem, o resultado global do valor adicionado pela agropecuária, indústria e serviços apresentará um incremento de 3,5% em 2014 em comparação a 2013. “Partindo-se de uma projeção de que os impostos cresçam pelo menos nesse patamar, então o Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia deve se expandir, dentro de um cenário moderado, em aproximadamente 3,5% em 2014”, acredita Pessoti.
O Economista admite que a economia baiana vem apresentando relativo destaque ao longo dos últimos anos. Após apresentar um crescimento econômico de 4,1% em 2011, 3,1% em 2012, 2,7% em 2013, as expectativas para 2014 giram em torno de um crescimento maior do que o registrado ao longo dos últimos dois anos. “Há argumentos que me fazem acreditar em um crescimento econômico para a Bahia novamente superior à taxa registrada para a economia brasileira que, segundo dados das principais consultorias especializadas do Brasil, já projetam um crescimento de 2,5% para a economia brasileira”, completa.
Setores produtivos - Com base em dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o setor de serviços na Bahia representa aproximadamente 62% do PIB, com especial destaque para aqueles ligados às atividades comerciais e ao setor público. Outros 29% estão alocados no setor industrial, que mesmo com as recentes perdas de participação ainda continua sendo aquele que apresenta maior dinamismo em termos de crescimento econômico, sobretudo pelo desempenho recente da construção civil e pela importância da indústria de transformação notadamente localizada na Região Metropolitana. Finalmente, aproximadamente 9% do PIB baiano é gerado pela agropecuária, que se ressente pelos dois anos de fortes secas que marcaram as principais regiões produtoras e exportadoras da Bahia.
Cadeia agropecurária - Considerando que a maior parte dos municípios baianos do interior tem forte correlação de dinâmica econômica atrelada ao desempenho da cadeia agropecuária (tanto interna quanto externamente) e que apesar das secas que castigaram toda a região Nordeste do Brasil entre 2012 e durante 10 meses de 2013, as chuvas de novembro e dezembro últimos foram importantes para iniciar uma grande recuperação no setor baiano. Tanto que as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) para 2014 já apontam para uma safra baiana de grãos 25% maior que a registrada em 2013, além de safras recordes para a produção de soja e algodão no Oeste da Bahia. Os problemas com a lagarta do milho, em sentido contrário, criam perspectivas menos otimistas para essa lavoura. Feijão deve seguir tendência de elevação do final de 2013 e a mandioca deve se recuperar das perdas das colheitas passadas. As expectativas são também de recuperação na pecuária, porém em menor escala com projeções próximas a elevação de 10% na produção. “Confirmadas essas recuperações, nos teríamos para 2014 o setor agropecuário da Bahia crescendo aproximadamente 15%”, resume Gustavo Pessoti.
Indústria - Na indústria baiana, segundo o Economista, os resultados não devem ser tão auspiciosos, porém o setor deve seguir em ritmo lento e gradual de recuperação. O cenário externo deve dar a tônica para a indústria de transformação. As expectativas de recuperação da Economia Norte Americana e de maior crescimento da Zona do Euro criam perspectivas positivas para as produções química e petroquímica do Estado. A China, por outro lado, pode diminuir a intensidade do crescimento em movimento semelhante ao ocorrido em 2013, e diminuir as exportações baianas. De acordo com Pessoti, seja em função da demanda externa, seja pela recuperação evidenciada em 2013, “as expectativas para a indústria de transformação da Bahia giram em torno de 3% em 2014”.
Na construção civil, por sua vez, as expectativas são de uma retomada na atividade, uma vez que o ano de 2013 não foi bom para o setor. “A necessidade de aceleração das últimas obras para a copa do mundo, sobretudo relacionadas com a melhoria da mobilidade urbana bem como a retomada nas vendas do mercado imobiliário baiano devem proporcionar uma taxa de incremento na construção da ordem de 2,5%”, acredita o presidente do CORECON-BA.
A grande incógnita para a indústria baiana está relacionada com a efetivação de importantes investimentos programados para serem realizados até o ano de 2015, montante de aproximadamente R$ 30 bilhões, segundo os dados da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado. Esses investimentos, sobretudo os relacionados com a energia eólica e no parque automotivo e mineração, são os de maior montante e têm capacidade de gerar efeitos multiplicadores em toda a cadeia da indústria baiana, de forma que o crescimento projetado para 2014 potencialmente pode ser ainda maior. “Para efeitos dessa análise preferimos trabalhar com um cenário moderado, com o setor industrial expandindo-se em torno de 2,8% nesse ano”, aponta o Economista.
Serviços - Em relação ao setor de serviços, as expectativas são um pouco menores para 2014, em função de dois fatores principais: a diminuição na intensidade de crescimento na atividade comercial, fato que já foi observado ao longo de 2013, em função do esgotamento dos incentivos à elevação de demanda, mas também em função de menor elevação na renda média do trabalhador, dado que o ganho real do salário mínimo foi bastante inferior ao ocorrido em 2013. Além disso, a preocupação com a inflação e as expectativas de mercado em torno de nova elevação da taxa de juros Selic devem frear o acesso ao crédito e desincentivar o consumo, principalmente no primeiro semestre de 2014. “Uma aposta bastante razoável para o setor seria uma elevação próxima a 2,0% nesse ano”, detalha Gustavo Pessoti.
Outro fator que deve diminuir o ímpeto de crescimento dos serviços está relacionado com o resultado esperado para administração pública, que deve ter uma expansão de apenas 1,0%. Em ano eleitoral, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina uma série de restrições aos gastos públicos. Além disso, o aperto fiscal deve se intensificar, com a necessidade de se produzir maior superávit fiscal, até mesmo em função do aumento dos gastos correntes do estado ao longo de 2013.
O presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia explica que os setores de serviços que devem apresentar os maiores desempenhos são aqueles relacionados com transporte, em função do maior escoamento da produção agrícola e industrial; os setores de alojamento e alimentação, que devem ter grande impacto em função do incremento no turismo e dos efeitos da copa do mundo; e, por fim, os serviços financeiros, que normalmente se expandem atrelados aos desempenhos dos setores agrícola e industrial. “Tomando-se por base o cenário moderado, nem pessimista nem otimista, que estamos traçando para a economia baiana, o setor de serviços deve se expandir aproximadamente 2,2% em 2014”, acredita o Economista.
“Nesse momento, no qual algumas incertezas pairam sobre o futuro da política macroeconômica brasileira e em relação ao comportamento da economia mundial e ainda sem nenhuma estatística relativa ao desempenho dos setores produtivos da Bahia para o ano de 2014, quanto mais conservador for o cenário econômico projetado, melhor. Afinal, prudência e canja de galinha não fazem mal nem mesmo aos economistas”, conclui Pessoti.